Resposta de uma professora do Paraná a revista Veja
Recebi esta carta por
e-mail e estou repassando!
Infelizmente ela é um
retrato da educação no país, resultado de políticas "livro pra comida,
prato pra educação"
Trata-se de uma carta
resposta escrita pela professora Andréa Pimpão, do Colégio Estadual Júlio
Mesquita, Paraná, à Revista Veja, que publicou uma reportagem escrita pela
jornalista Roberta de Abreu Lima sobre um rigoroso método científico de
avalição das aulas para medir o nível de ensino no Brasil. Segundo a
jornalista, alguma escolas já foram avaliadas e constatou-se que as aulas são
monótonas, baseadas na velha lousa, que um terço do tempo é desperdiçado com
indisciplina e desatenção dos alunos.
Para concluir, a
jornalista Roberta de Abreu Lima afirmou: "Numa manifestação de flagrante
corporativismo, os professores brasileiros chegaram a se insurgir contra a
presença dos avaliadores dentro da sala de aula. Em Pernambuco, o sindicato
rotulou a prática de "patrulhamento" e "repressão". Note-se
que são os próprios professores que preferem passar ao largo daquilo que a
experiência – e agora as pesquisas – prova ser crucial: conhecer a fundo a sala
de aula. Treinados pelo Banco Mundial, os técnicos já se puseram a colher
informações valiosas. Afirma a secretária de educação do Rio de Janeiro,
Claudia Costin: "Pode-se dizer que o cruzamento das avaliações oficiais
com um panorama tão detalhado da sala de aula revelará nossas fragilidades como
nunca antes". Nesse sentido, os cronômetros são um necessário passo para o
Brasil deixar a zona do mau ensino."
Leiam! É grande,
mas vale a pena!
*
Abaixo envio uma cópia
da carta escrita por uma professora que trabalha no Colegio Estadual Julio
Mesquita, à revista Veja.
RESPOSTA REVISTA VEJA
Sou professora do
Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de
Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão
seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS
razões que geram este panorama desalentador.
Não há necessidade de
cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as falhas da educação. Há
necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de
atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital”
entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira. Que alunos são
esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas
casas quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da
pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas
atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas
famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência,
causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas
brasileiras. Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que
lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade
e não somente pela escola.
Não gosto de comparar
épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam
presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto
mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou
simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de
estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas,
ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite??? (quando o têm),
brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina
seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças
e jovens procuram é amor, atenção, orientação e ...disciplina.
Rememorando, o que
tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente:
responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos
uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se
venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com
tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos,
não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques,
subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o
hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler,
escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª.
Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos
motivação para isso.
Hoje, professores
“incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem
livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes
resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e outros locais educativos
(benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda
dos pais comporta, até à passeios interessantes, planejados, minuciosamente,
como ir ao Beto Carrero. E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está
bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes” elaboram atividades
escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem
remuneração;
Todos os profissionais
têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados.
Professores têm 10 m .de
intervalo, onde tem que se escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o
cafezinho. Todos os
profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a
um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a
saúde?
É a única profissão
que conheço que embora apresente atestado médico, tem que repor horas aulas.
Plano de saúde? Muito precário. Há de se pensar, então, que são bem
remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa
área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão
aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos
tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para
Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que esforcem-se em ministrar boas
aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre
outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar.
Mas, ainda não é tão grave. Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a
professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus
pais e familiares.
Lembro de um artigo
lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país
sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo
limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não
merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de
aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com
indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem
escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não
passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.
Por que os alunos do
Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados?
Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina. E é isso que precisamos e
não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme
carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente
aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente
estudando e aprimorando-se.
Em vez de cronômetros
precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas
cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim,
em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitos colégios nesse
Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa
realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que
for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.
Em plena era digital,
os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à
mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim ouve-se falar em cronômetros. Francamente !!!
Passou da hora de
todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país,
futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de
bandidismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas
as acusações de serem despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno
com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO. Responder a essa reportagem
custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.
fonte:www.blogtemposmodernos.com.br
1 comentários:
Fui professora por quase 28 anos. Não foi nada fácil.
Beijos meus!
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